FÉ, REALIDADE E MUITO VIVER

23/03/2022 17:21

Fé, realidade e muito viver

Eu já te contei?

Ou aos muitos que talvez possam ler?

Contei sim, mas agora de um modo diferente!...

 

O menino estava atento, podia ter seus 9 anos, 10 anos, não sei porque faz muito tempo de lembrar. Ele estava atento assistindo uma das aulas de catecismo de sua mãe, ali estava muitos meninos e meninas escutando. De repente um dos meninos lhe pergunta:

--- você vai ganhar um irmãozinho?

--- não sei, porque você está perguntando?

--- não está vendo que sua mãe está grávida?

--- ah! Não tinha percebido, (naqueles tempos a inocência era incrível) então vou ter sim, um irmãozinho ou irmãzinha!...

O menino inquisidor nas perguntas volta a indagar:

--- mas porque sua mãe é branca e você é negro?

O menino tímido, mas de acordo com a circunstância pensou em dizer:

--- lógico seu jumento, porque meu pai é negro também, eu e alguns de meus irmãos puxamos a ele nessa linda cor, (mas pensou, não rebateu, sua mãe sempre lhe dizia quando vier a raiva pensar antes de rebater) logo todos foram para suas casas e o menino com sua mãe também. A mulher deu à luz, mais um rebento nascia, ao todo 16 filhos, 4 morreram ainda bem crianças, 12 iam vivendo.

Apesar de ser muito pobre, a mãe não deixava de continuar sua missão, dar aula de catecismo, entrosava também nas obras assistenciais da igreja. Mesmo não possuindo muito estudo porque mal completou dois anos na escola, teve de sair por imposição de seu pai. Depois de adulta, bem jovem, viu a possibilidade em ensinar,  Possuía uma rara inteligência em aprender, tornou-se autodidata em quase tudo necessário a esse viver às vezes tão misterioso. Prova disso ela foi reconhecida por uma legião de alunos pela sua alta capacidade em ensinar o catecismo, histórias incríveis de seu mestre Jesus.

Havia momentos que o marido falava:

--- Maria, deixe um pouco os trabalhos da igreja e preocupe mais com seus filhos. Ela retrucava:

--- tenho uma missão, sei que Jesus protege meus filhos, tenho outros filhos que são meus alunos de catecismo, esses o Senhor me incumbiu de orientá-los.

Um dia o menino se queima com água fervente, suas irmãs mais velhas estavam fazendo o café, a mãe é chamada às pressas, estava na igreja!... As irmãs se defendem desesperadas:

--- não temos culpa, ele que foi muito teimoso!

O sofrimento do menino nos primeiros dias acamado eram terríveis cheios de dores, mas no final foram sanados, sua mãe cuidou dele maravilhosamente. Ela lhe repete as mesmas palavras:

---viu, meu filho, Jesus sempre cuida de vocês.

--- verdade, mãe?

--- sim, numa ocasião, eu estava na missa, antes de terminar ouço uma voz, dizia pra ir imediatamente para casa, ao chegar deparei que um de meus filhos de mais ou menos de uns 5 anos, estava afogando numa mina d’água, imediatamente o puxei pelos pés e consegui salva-lo.

---era eu, mãe, lembro de alguém que estava me puxando.

Ah! Então era você!...

O tempo foi passando, aquela mãe catequista ainda teve muitas lutas pela frente, seu esposo falece aos 51 anos, ela afastou dos serviços da igreja para trabalhar e terminar de criar seus filhos. Continuava ajudando como podia a todas pessoas mais necessitadas, porque seu amor ao semelhante era imenso. O tempo continuava avassalador, vem a idade avançada, até seus noventa e poucos anos com lucidez espetacular conseguia até convencer aos relutantes na fé. Entretanto veio a lógica de nossa existência, no finzinho de sua existência, quase 100 anos!!! Veio a dependência irredutível, já não conseguia mais a comandar, decidir até mesmo em suas necessidades mais primárias, veio a demência, seus filhos ajudavam como podiam. Um dia eu até questionei, nessas alturas devo confessar que o menino era eu, sim nas minhas indagações relutava:

--- Jesus, porque não preservaste pelo menos a lucidez desta sua serva que tanto ensinou sua história? Porque, seus últimos momentos terminar simplesmente assim?...

Aconteceu que ao amanhecer eu pergunto à minha irmã:

--- e aí como a mamãe passou a noite?

Minha irmã já no auge do cansaço responde:

--- nossa! a noite foi daquele jeito, muito difícil.

Por incrível que pareça, minha mãe responde num resquício de lucidez:

--- que seja tudo, como Deus quiser!

Minha irmã responde:

--- deixa Deus saber disso!!!

E aí parece que de repente a lucidez completa aparece na mente de minha mãe que responde:

--- então vocês não sabem, que Deus sabe tudo, seu poder é imenso e sabia que meus últimos dias seriam exatamente assim?!...

Sua última lições a todos nós. No ano de 2010, sua alma vai ao encontro do Criador.

Eu continuando nas minhas relutâncias, mas dizendo:

--- Senhor, ela tem que estar nos seus Céus, de felicidades infinitas longe de tantos sofrimentos.